Fissuras
Segundo Corsini (2010), as fissuras podem começar a
surgir de forma pacífica. Na execução do projeto arquitetônico é um dos tipos
mais comuns de patologias nas edificações e podem interferir na estética, na
durabilidade e nas características estruturais da obra. Ela pode ser um indício
de algum problema estrutural mais grave. Pelo fato de toda fissura originar uma
possível patologia mais grave (trinca e rachadura).
Existem dois tipos de manifestações da fissura em
alvenarias (FIG. 02), podendo ser geométricos (FIG. 03) ou mapeados (FIG. 04).
Segundo Corsini (2010), as fissuras geométricas (ou isoladas) podem
ocorrer tanto nos elementos da alvenaria - blocos e tijolos - quanto em suas
juntas de assentamento. Já as fissuras mapeadas (também chamadas de
disseminadas) podem ser formadas por retração das argamassas, por excesso de
finos no traço ou por excesso de desempenamento. No geral, elas têm forma de
"mapa" e, com frequência, são aberturas superficiais. As fissuras
podem ocorrer de forma ativa ou passiva, sendo que as ativas ainda podem ser
subdivididas em sazonais ou progressivas. As fissuras ativas (ou vivas) são
aquelas que têm variações sensíveis de abertura e fechamento, sendo as sazonais
devido às variações de temperaturas, estas não apresentam riscos reais à estrutura,
já a progressiva vai aumentar de tamanho no decorrer do tempo sendo estas
perigosas para a vida útil da edificação.
FIGURA 02 – Classificação das fissuras em
alvenarias
A fissura é o primeiro estágio de uma possível patologia
mais grave, pois toda trinca ou rachadura em algum momento foi uma fissura
mesmo que momentaneamente. Segundo o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da
Arquitetura (201-?)3
não apresenta nenhum problema estrutural grave para estrutura desde que não que
aumente sua espessura no decorrer do tempo, sua espessura pode atingir até 0,5
mm.
Trincas
As trincas podem ser definidas como o estado em que um
determinado objeto ou parte dele se apresenta partido, separado em partes.
Segundo o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura (201-?)4
nesse caso,
a abertura ultrapassa a camada do revestimento e podem afetar diretamente a
estrutura interna, por representar a ruptura dos elementos, podem diminuir a segurança
de componentes estruturais de um edifício. Mesmo sendo muito pequena e quase
imperceptível deve ter a causa ou as causas minuciosamente pesquisadas. Sua
espessura pode ser superior a 0.5mm podendo chegar a até 3mm, como mostra a
FIG. 05.
Rachaduras
Falha contínua devido à falta de resistência de
um determinado material às tensões e influências internas e externas a ele
aplicadas. É um estado em que um determinado objeto ou parte dele apresenta uma
abertura de tal tamanho que ocasiona interferências indesejáveis. É o tipo de
fissura mais grave e dependendo do local onde ocorre impossibilita o uso da
edificação. Torna-se inviável uma possível medida de recuperação devido ao alto
custo necessário. Segundo o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da
Arquitetura (201-?)4 são aberturas
de tamanho consideráveis, acima de 3 mm por onde podem passar luz, vento e água
tem como característica a grande abertura, pronunciada, profunda e acentuada,
como mostra a FIG. 06.
Principais causas das fissuras
Uma fissura de deformação da
estrutura, por exemplo, pode ser parecida com uma de recalque de fundação. Uma
de dilatação térmica pode ser igual a uma de retração de secagem. Por isso, é
preciso ter um treinamento e certa experiência para, com uma inspeção visual,
chegar à causa (THOMAZ, apud CORSINI 2010).
Principais causas de fissuras em edificações:
Movimentações térmicas, devido à dilatação e
contração (devido às variações de temperatura)
Isso acontece porque uma estrutura ao se dilatar,
cria uma zona de concentração de esforço, assim, para aliviar essa concentração
aparecem as trincas e rachaduras na estrutura em questão. Nas edificações
ocorrem, geralmente, sobre as lajes provocando fissuras horizontais em sua
parte inferior (LEAL, 2003). As fissuras de origem térmica podem também surgir
por movimentações diferenciadas entre componentes de um elemento, entre
elementos de um sistema e entre regiões distintas de um mesmo material. Segundo
Thomaz (1989), as principais movimentações diferenciadas, ocorrem em função de:
Junção de materiais com
diferentes coeficientes de dilatação térmica, sujeito às mesmas variações de
temperatura (por exemplo, movimentações diferenciadas entre argamassa de
assentamento e componentes de alvenaria); Exposição de elementos a diferentes
solicitações térmicas naturais (por exemplo, cobertura em relação as paredes de
uma edificação); Gradiente de temperatura ao longo de um mesmo componente (por
exemplo, gradiente entre a face exposta e a face protegida de uma laje de
cobertura (Thomaz, 1989 p. 9).
Sobrecargas
A atuação de sobrecargas, previstas ou não em
projetos pode produzir fissuras nos elementos estruturais e de vedação. Elas
ocorrem pelo carregamento excessivo de compressão. Existem dois tipos de
fissuras provocadas por sobrecargas:
·
Fissuras verticais (FIG. 07), são casos mais
típicos, provenientes da deformação transversal da argamassa sob ação das
tensões de compressão, ou da flexão local dos componentes de alvenaria.
FIGURA 07 – Fissuras verticais
Fonte: Thomaz (1989)
·
Fissuras horizontais (FIG. 08), provenientes da
ruptura por compressão dos componentes de alvenaria ou da própria argamassa de
assentamento, ou ainda de solicitações de flexocompressão da parede.
FIGURA 08 – Fissuras horizontais
Fonte:
Thomaz (1989)
Recalques de fundação
Podem ocorrer por inúmeros fatores dentre eles se
destacam:
·
Recalques por superposições de pressão
Situação muito comum ocorre quando são realizadas
construções de grande carga junto a edificações com fundações diretas leves,
ocasionando superposição de pressões, bulbo de tensão e recalque adicionais
especialmente em edificações antigas (FIG. 09).
FIGURA 09 – Recalque por superposição de pressão
Fonte: Milititsky; Consoli; Schnaid, (2015)
·
Recalques devido a erros de projetos
Devido à incorporação de edifícios cada vez mais
altos, maiores serão as cargas no solo e consequentemente maiores os recalques.
Desta forma, para os edifícios de grande porte faz-se necessário, a previsão de
recalques, estudos de solo (sondagem), análises para encontrar o melhor tipo de
fundação (rasas ou profundas). Segundo MILITITSKY; CONSOLI; SCHNAID (2015), o
programa de investigação (sondagem) pode se mostrar inadequado à identificação
de aspectos que comprometem o comportamento da fundação projetada, o que pode
acontecer devido a número insuficientes de sondagens.
·
Recalques devido a erros de execução
Ocorre principalmente por não se ter uma equipe
especializada. Os erros podem surgir por inúmeros fatores como: armaduras
montadas erroneamente, dimensões equivocadas da fundação, impermeabilização
feita incorretamente.
·
Recalques devido a problemas no solo
Recalque diferencial por falta de homogeneidade
do solo (FIG. 10) podem acontecer entre elementos verticais como pilares,
tubulões e estacas, solicitando às alvenarias com tensões incompatíveis com sua
capacidade de absorver tais deformações.
FIGURA 10 – Recalque devido à falta de
homogeneidade no solo
Fonte:Thomas (1989)
·
Recalque diferenciado por consolidação distinta
do aterro carregado
As camadas mais altas de aterro vão ter um
recalque superior em relação as partes mais baixas do aterro (FIG. 11).
FIGURA 11 – Recalque diferenciado por
consolidação distintas
Fonte: Thomas (1989)
·
Fundações assente entre aterro e corte tendem a
provocar trincas em alvenarias. Na maioria das vezes, aparece uma grande trinca
vertical onde a seção muda de aterro para corte, sugerindo a separação da
edificação em dois corpos (FIG. 12).
FIGURA 12 – Recalque devido à fundação se aterrar
em diferentes cortes do terreno
Fonte: Thomas (1989)
·
Recalque devido ao rebaixamento do lençol
freático, o lado da edificação em que se localiza o maior rebaixamento do
lençol freático sofre mais danos que o outro.
Identificando as fissuras em elementos
estruturais
As fissuras estruturais apresentam-se paralelas,
geralmente em uma só direção e são as que podem apresentar riscos reais a
edificação, pois normalmente os elementos estruturais (vigas, pilares e lajes)
depois de receberem o concreto unem-se formando um único elemento.
Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro5
o aparecimento de fissuras nos elementos estruturais é um sintoma de que a peça
não está reagindo bem às forças que incidem sobre ela. Analisando o elemento e
o desenho de sua fissura é possível identificar possíveis causas
Vigas
·
Fissura inclinada
Quando se apresentam próximas à junção das vigas
com o pilar. Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro elas podem indicar que o
vão está se separando do pilar, isto ocorre provavelmente, por conta de
sobrecargas. A trinca é inclinada (FIG. 13).
FIGURA 13 – Fissuras inclinadas no elemento viga
Fonte: Defesa civil do Rio de Janeiro
·
Fissuras verticais
Ocorre normalmente no meio da viga, no vão
formado por dois apoios. Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro a sua causa
provavel é a flexão da peça, ou seja, o momento fletor ao qual a viga sofre
tende a curva-la. Este momento provoca esforços de tração nas fibras externas e
compressão nas internas (FIG. 14).
FIGURA 14 – Fissuras verticais no elemento viga
Fonte: Defesa civil do Rio de Janeiro
2.2.1.4.2 Pilares
·
Inclinadas
Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro6
sua causa provável é o afundamento do solo e a consequente deformação da
fundação e dos pilares (FIG. 15).
FIGURA 15 – Fissuras inclinadas no elemento pilar
Fonte: Defesa civil do Rio de Janeiro
·
Horizontais
Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro ela
ocorre provavelmente pelo afundamento do solo ou por ação de carga fora do
cento do pilar (FIG. 16).
FIGURA 16 – Fissuras horizontais no elemento
pilar
Fonte: Defesa civil do Rio de Janeiro
·
Verticais
Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro ela
ocorre provavelmente por sobrecargas que o pilar sofre (FIG. 17).
FIGURA 17 – Fissuras verticais no elemento pilar
Fonte: Defesa civil do Rio de Janeiro
Lajes
Segundo a defesa civil do Rio de Janeiro7
as fissuras nas lajes ocorrem principalmente por duas causas a pelos efeitos de
temperatura (dilatação e contração) ocasionada principalmente pela cura do
concreto e por flexões ou sobrecargas que o elemento sofre (FIG. 18).
FIGURA 18 – Fissuras no elemento laje
Fonte: Defesa civil do Rio de Janeiro
3.2.2. Manchas
Os problemas dentro da construção
civil causados por umidade podem estar relacionados a até 60% das
manifestações patológicas encontradas em edificações em fase de uso e operação
e podem levar a prejuízos de caráter funcional, de desempenho, estéticos e
estruturais podendo representar risco à segurança e à saúde dos usuários
(SOUZA, 2008).
A saturação de água nos materiais sujeitos à
umidade tem como consequência o aparecimento de manchas características e
posterior deterioração.
Na construção civil, os defeitos decorrentes da
penetração de água ou devido à formação de manchas de umidade, geram problemas
bastante graves e de difíceis soluções, tais como:
·
Prejuízos de caráter funcional da edificação;
·
Desconforto dos usuários e em casos extremos os
mesmos podem afetar a saúde dos moradores;
·
Danos em equipamentos e bens presentes nos
interiores das edificações;
·
E diversos prejuízos financeiros.
Os problemas de umidade podem se manifestar em
diversos elementos das edificações – paredes, pisos, fachadas e elementos de
concreto armado. Geralmente eles não estão relacionados a uma única causa (FIG.
19).
FIGURA 19 – Causas de manchas em uma edificação
Fonte: Pozzobon, 2007
apud Barbalho, 2011
Principais causas de umidade em uma edificação
Trazidas durante a construção
Segundo o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
da Arquitetura (IBDA, 201-?)8,
a água é utilizada em quase todos os serviços de engenharia, às vezes como um
componente e outras como uma ferramenta. Entra como componentes nos concretos e
argamassas e na compactação dos aterros e como ferramenta nos trabalhos de
limpeza, resfriamento e cura do concreto. É um dos componentes mais importantes
na confecção de concretos e argamassas e imprescindível na umidificação do solo
em compactação de aterros. Um material de construção nobre, que influencia
diretamente na qualidade e segurança da obra. Se na fase de construção a água
for dimensionada equivocadamente, quando é utilizada como um componente, poderá
facilitar a entrada posterior da umidade trazida por outros meios como no caso
principalmente da chuva e de vazamentos hidráulicos, devido as bolhas de ar
formadas após a concretagem.
Trazidas por capilaridade
Segundo VERÇOZA (1991) e KLEIN (1999) apud
SOUZA (2008), a umidade trazida por capilaridade ocorre nos baldrames das
construções devido a três importantes aspectos:
·
Às condições do solo úmido em que a estrutura da
edificação foi construída;
·
A ausência de obstáculos que impeçam a
progressão da umidade;
·
A utilização de materiais porosos (tijolos,
concreto, argamassas, madeiras, blocos cerâmicos) que apresentam canais
capilares, permitindo que a água ascenda do solo e penetre no interior das
edificações.
Este tipo de umidade pode ser classificado ainda
como permanente, caso o nível de lençol freático encontre-se muito alto ou
sazonal, decorrente de uma variação climática.
Seu aparecimento ocorre nas áreas inferiores das
paredes das edificações, uma vez que estas tendem a absorver a água que sobe do
solo úmido (umidade ascensional) através de sua fundação (FIG. 20).
Ela ocorre devido aos materiais que apresentam canais capilares, por
onde a água passará para atingir o interior das edificações. Têm-se como
exemplos destes materiais os blocos cerâmicos, concreto, argamassas,
madeiras, etc.
FIGURA 20 – Manchas trazidas pela capilaridade
Fonte: Fórum da construção
9
Trazidas por chuva
Esse é o agente mais comum para gerar
umidade, tendo como fatores
importantes a direção e a velocidade do vento, a intensidade da precipitação,
a umidade do ar e fatores da própria construção. De acordo com Righi
(2008), “é a umidade que passa de uma área para outra através de pequenas
trincas nas divisórias que as separam”. Esta água de percolação, geralmente é
ocasionada pela água da chuva (FIG. 21) e pode ser intensificada com o vento.
FIGURA 21 – Manchas ocasionadas pela infiltração
da chuva
Fonte: Próprio autor
Resultantes de vazamentos em redes
hidráulicas
Nesse tipo de infiltração é difícil identificar o
local do vazamento. Isso se deve ao fato destes vazamentos estarem na
maioria das vezes encobertos pela construção, sendo bastante danosos para
o bom desempenho esperado da edificação (FIG. 22).
FIGURA 22 – Manchas trazidas por vazamentos
hidráulicos
Fonte: Pet Engenharia civil UFJF (2014)
10
Condensação
De acordo com a NBR 9575 (2010), “é a água com
origem na condensação de vapor d’água presente no ambiente sobre a superfície
de um elemento construtivo deste ambiente”. Ocorrendo geralmente em banheiros,
saunas e frigoríficos. Desta maneira possui uma forma bastante diferente das
outras já mencionadas, pois a água já se encontra no ambiente e se
deposita na superfície da estrutura e não mais está infiltrada (FIG. 23).
FIGURA 23 – Manchas ocasionadas pela condensação
Fonte: Próprio autor
3.2.3. Eflorescência
Eflorescências são formações de sais que aparecem
sob o aspecto de manchas de cor branca e que foram transportados pela umidade
(FIG. 24). Muito comum em paredes de tijolos. Quando situadas entre o reboco e
a parede, as eflorescências forçam um plano capilar, por onde sobe a umidade,
que aumenta a força de repulsão ao reboco. As eflorescências podem alterar a
aparência da superfície sobre a qual se depositam e em determinados casos seus
sais constituintes podem ser agressivos, causando desagregação profunda da
estrutura.
FIGURA 24 – Eflorescência na edificação
Fonte:
Próprio autor
Causas da eflorescência
A eflorescência é originada por três fatores que
possuem o mesmo grau de importância. São eles: o teor de sais solúveis
presentes nos materiais ou componentes, a presença de água ou umidade e a
pressão hidrostática que faz com que a migração da solução ocorra, indo para a superfície.
Os três fatores devem existir e caso algum deles não esteja presente, não
haverá a formação desta patologia (SOUZA, 2008).
·
Teor de sais solúveis presentes nos materiais ou
componentes
Mesmo em paredes que possuem baixa permeabilidade
ao vapor d’água, a umidade no interior da parede é eliminada pela sua
superfície. A presença de sais no interior das alvenarias é inevitável, pois
vários materiais de construção possuem sais ou acabam gerando sais devido às
reações que ocorrem durante sua aplicação e processo de cura. Quando a umidade
do interior da alvenaria atravessa o reboco e chega à superfície da parede, ela
transporta estes sais até à superfície. Como os sais não evaporam junto com a
água, eles se recristalizam na superfície, causando as eflorescências. Apesar
de serem problemas estéticos que não apresentam grandes problemas para a
parede, as eflorescências são um indício da existência de umidade e sais, que
futuramente irão causar a degradação do reboco e a criptoflorescências (é a
cristalização de sais no interior de elementos construtivos como em paredes,
lajes e outros, estes cristais quando estão se formado têm grande dimensão e
aderem à superfície interior do elemento construtivo, vindo aumentar de volume
e causando a desagregação dos materiais). A tabela abaixo mostra os tipos de
sais que podem causar a eflorescência e as suas possíveis origens com base nos
materiais (FIG. 25).
FIGURA 25 – Sais comuns em eflorescência
Fonte: Bauer, 2001
apud Silva, 2011
·
Presença de água ou umidade
Segundo Silva (2008), as placas cerâmicas, blocos
e argamassas possuem vazios no interior, como cavidades, bolhas, poros abertos
e fechados e uma enorme rede de micro canais. A água pode passar para o seu
interior por capilaridade ou mesmo por força do gradiente hidráulico. A FIG. 26
mostra as origens das umidades nas construções e os locais onde está presente.
FIGURA 26 – Origens da umidade nas construções
Fonte: Adaptada de Klein, 1999
apud Souza, 2008
3.2.4. Corrosão da armadura de aço
Segundo o IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas11),
a corrosão nas armaduras de concreto é uma das patologias mais frequentes nas
edificações. A corrosão das armaduras, podem determinar o fissuramento do
concreto e até seu desplacamento fazendo com que sua armadura fique exposta ao
ambiente. A corrosão é frequentemente relacionada à presença de teores críticos
de íons de cloreto no concreto ou no abaixamento do seu pH devido às reações
com compostos presentes no ar atmosférico, especialmente o dióxido de carbono
(ARAÚJO, 2013). A armadura de aço pode ser definida como material metálico que
em contato com ambientes agressivos estão sujeitos à corrosão. Podem ocorrer
dois tipos de corrosão: a corrosão eletroquímica (aquosa) e a corrosão química
(corrosão seca). A corrosão eletroquímica vai ocorrer quando as estruturas
entram em contato com soluções aquosas, como água doce ou do mar, como o solo,
as atmosferas úmidas. A corrosão química é um processo lento e não provoca
deterioração superficial das superfícies metálicas (exceto quando se tratar de
gases extremamente agressivos) (BERTOLINI, 2010). Normalmente, em obras civis só
ocorre corrosão eletroquímica.
Principais causa de corrosão da armadura
de aço
Bicheiras ou brocas devido a erro de
lançamento e adensamento do concreto
Popularmente conhecidos como bicheiras, podem
afetar a durabilidade e resistência das estruturas de concreto, que poderão
sofrer deformações ou até mesmo entrar em colapso. As principais causas do
problema são as falhas no processo de concretagem da estrutura, por exemplo, no
lançamento ou adensamento do concreto. Algumas vezes, no entanto, a patologia
pode ser causada por erro no detalhamento da armadura (FIGUEROLA, 2006).
Armaduras muito próximas o que vai impedir que o vibrador entre para fazer o
adensamento do concreto. Se não tratada imediatamente, o aço vai ficar exposto
corrompendo sua armadura (FIG. 27).
FIGURA 27 – Bicheiras na estrutura de concreto
Fonte: Arquitetura, engenharia e construções
12
Cobrimento insuficiente da armadura
O que protege a armadura do ambiente é o
cobrimento que deve ser proporcional à agressividade do ambiente. Quanto mais
agressivo o ambiente, maior ele tem que ser (FIG. 28). Segundo a NBR 6118 (2014),
“(...)a durabilidade das estruturas é altamente dependente das características
do concreto e da espessura e qualidade do concreto do cobrimento da armadura”
(FIG. 29).
FIGIRA 28 – Cobrimento insuficiente causando
corrosão
Fonte:
Próprio autor
FIGURA 29 – Correspondência entre classe de
agressividade ambiental e cobrimento nominal
Fonte: NBR 6118 (2014)
Segundo NAKAMURA (2011), o concreto além de ter
sua capacidade de suportar as cargas verticais, também tem o importante papel
de proteger as armaduras, cobrindo o aço de modo a evitar seu contato direto
com o ambiente agressivo. De forma geral, quanto maior for o cobrimento maior
será a proteção que a armadura de aço terá.
Destacamento do concreto
Concreto é um elemento construtivo composto
basicamente por areia, brita, água e cimento. O concreto, quando preparado e
lançado corretamente, transforma-se em uma massa homogênea, em que o agregado
graúdo está completamente envolto pela pasta de cimento, areia e água. Se
ocorre um erro de lançamento ou de vibração, os agregados graúdos separam-se do
resto da pasta, formando um concreto cheio de vazios, permeável, facilitando o
seu destacamento no decorrer do tempo fazendo com que, posteriormente a
armadura fique exposta (FIG. 30).
E outra situação que pode provocar o destacamento
do concreto quando a relação água cimento não é respeitada a resistência fica
comprometida e quando a estrutura é solicitada ela não consegue atender,
podendo se romper de uma vez ou lentamente.
FIGURA 30 – Destacamento do concreto
Fonte: Equipe de obra (2011)
3.2.5. Deterioração do concreto armado
Esta manifestação patológica é caracterizada
sempre que ocorrer uma desintegração do concreto, devido a perda do caráter
aglomerante do cimento, ficando os agregados soltos pela perda da função da
pasta de cimento.
O concreto armado foi considerado durante muitos
anos um material eterno, que não necessitava de cuidados ao longo de sua vida
útil, dispensando manutenções preventivas. Recentemente este conceito passou
ser revisto, levando em consideração a grande quantidade de edificações com
problemas de degradação em componentes estruturais (HELENE, 2003).
Segundo Botelho e Marchetti (2013), o concreto
pode ser definido como a união entre pedras, areia, cimento e água. Este
material tem a função, especificamente, de resistir aos esforços de compressão.
Os processos principais que
causam a deterioração do concreto podem ser agrupados, de acordo com sua
natureza, em mecânicos, físicos e químicos [...] Os processos de degradação
alteram a capacidade de o material desempenhar as suas funções, e nem sempre se
manifestam visualmente. Os três principais sintomas que podem surgir
isoladamente ou simultaneamente são: a fissuração, o destacamento e a
desagregação (LAPA, 2008, p. 9).
Segundo a norma técnica NBR 15575 (2013), perante
as diversas condições de exposição, peso próprio, sobrecargas de utilização,
ação do vento e outras, a estrutura deve atender, durante a vida útil de
projeto, aos seguintes requisitos:
- Não ruir ou perder a estabilidade de nenhuma de
suas partes;
- Prover segurança aos usuários sob ação de
impactos, vibrações e outras solicitações decorrentes da utilização normal da
edificação, previsíveis na época do projeto;
- Não provocar sensação de insegurança aos
usuários pelas deformações de quaisquer elementos da edificação, admitindo-se
tal requisito atendido caso as deformações se mantenham dentro dos limites
estabelecidos nesta norma;
- Não repercutir em estados inaceitáveis de
fissuras de vedações e acabamentos;
- Não prejudicar a manobra normal de partes
móveis, tais como portas e janelas, nem repercutir no funcionamento anormal das
instalações em face das deformações dos elementos estruturais.
Causas da deterioração do concreto armado
Para toda a causa da deterioração existe um ou
mais agentes atuantes que, por meio de mecanismos de deterioração, interagindo
com o concreto e o aço, reduzem assim gradativamente o desempenho da estrutura
(ANDRADE, 2005 apud SANTOS, 2012).
Causas mecânicas
Para Souza e Ripper (1998) apud Santos
(2012), tais causas referem-se às solicitações mecânicas às quais as estruturas
de concreto estão sujeitas, devido a:
·
Choques e impactos (por veículos automotores,
por exemplo);
·
Recalque diferencial das fundações;
·
Acidentes imprevisíveis (inundações, grandes
tempestades, explosões e abalos sísmicos).
Além de comprometer a capacidade resistente da
estrutura a deterioração por causas mecânicas, facilita a entrada de agentes
agressivos na estrutura danificada, principalmente quando o concreto e a armadura
ficam expostos devido ao impacto das solicitações (FIG. 31). Muito comum em
viadutos, pontes, garagens e guarda-corpo (SANTOS, 2012).
FIGURA 31 – Deterioração do concreto por ações
mecânicas
Fonte: Santos, 2012
Causas físicas
Souza e Ripper (1998) apud Santos
(2012), compreendem que as causas físicas intrínsecas ao processo de
deterioração da estrutura são resultantes da variação extrema da temperatura,
da ação do vento, da água (sob a forma de chuva, gelo e umidade) e do fogo.
As principais causas físicas são:
·
Desgastes superficiais podendo ser a abrasão ou
erosão
A abrasão é o processo que causa desgaste
superficial no concreto por esfregamento, enrolamento, escorregamento ou
fricção constante, sendo particularmente importante no estudo do comportamento
de pisos industriais, pavimentos rodoviários e de pontes (BAUER, 2002 apud LAPA,
2008). Ela se refere ao atrito seco e é a perda gradual e contínua da argamassa
superficial e de agregados em uma área limitada. Como mostra a FIG. 32, o piso
sofreu um desgaste superficial com o decorrer do tempo e da sua utilização.
FIGURA 32 – Desgaste causado por abrasão
Fonte:
Domus telhas e revestimento de concreto,
201013
A erosão é o processo de degradação que (FIG. 33)
se origina na ação da água em movimento, arrasta partículas sólidas em
suspensão como: areia, cascalho, pedras e outros objetos, os quais se chocam
contra a superfície do concreto, provocando o desgaste por colisão,
escorregamento ou rolagem (ANDRADE, 2005 apud SANTOS, 2012).
FIGURA 33 – Evolução da erosão
Fonte: Santos, 2012
·
Retração hidráulica do concreto fresco
O fenômeno que causa a fissuração do concreto no
estado fresco (antes do fim da pega do cimento) é conhecido como retração
plástica, que ocorre por meio da rápida evaporação da água da superfície
exposta do concreto não endurecido. Essa perda de água, por sua vez, se dá pela
exposição às intempéries (vento, baixa umidade relativa e aumento da
temperatura ambiente), originando tensões que tracionam a peça de concreto,
gerando variação volumétrica e fissuração (HASPARYK et al., 2005). A
retração plástica também é conhecida como “retração hidráulica do concreto
fresco”.
·
Retração ou dilatação térmica
A retração térmica ocorre logo após o lançamento
do concreto fresco, iniciando-se as reações de hidratação do cimento, as quais
são exotérmicas, isto é, liberam grande quantidade de calor. Esse, por sua vez,
eleva de forma considerável a temperatura do concreto fresco durante as
primeiras horas. Entretanto, devido à interação com as condições climáticas do
ambiente, a temperatura do concreto fresco sofre grande redução e seu volume
diminui, isto é, a peça se contrai, originando tensões térmicas que irão
tracioná-la, gerando fissuração de origem térmica (SANTOS, 2012). Ratificando a
importância da cura do concreto.
Já a dilatação térmica ocorre quando o concreto
já endurecido, assim como a maioria dos materiais, sofre variação volumétrica
quando submetido à variação da temperatura ambiental. Um aumento na temperatura
faz estrutura de concreto sofrer expansão. Paralelamente, a estrutura sofre
contração (diminuição de volume) quando a temperatura cai dando origens a
fissuras (EMMONS, 1993 apud SANTOS, 2012).
Causas químicas
A deterioração do concreto é iniciada,
geralmente, por processos químicos, embora fatores físicos e mecânicos também
possam estar envolvidos, em combinação ou não, com os processos químicos. As
reações químicas se manifestam através de efeitos físicos nocivos, tais como o
aumento da porosidade e permeabilidade, diminuição da resistência, fissuração e
destacamento do concreto (SANTOS, 2012), além da própria decomposição química
da estrutura afetada. Segundo Poggiali (2009), a degradação química do concreto
ocorre devido às causas externas à estrutura (reação direta dos agentes
externos com os constituintes da pasta de cimento) e causas internas (reações
internas ao concreto, tais como a reação álcali-agregado, formação de compostos
expansivos do cimento).
·
Reação álcalis-agregado (RAA)
Segundo Santos (2012), a RRA é um fenômeno
patológico que ocorre no concreto e que pode desencadear problemas tanto em
nível estrutural como operacional. Ela pode ser definida como um termo geral
utilizado para descrever a reação química que ocorre internamente em uma
estrutura de concreto, envolvendo os hidróxidos alcalinos provenientes
principalmente, do cimento e alguns minerais reativos presentes no agregado
utilizado. O maior problema desta patologia está no fato que ela possui caráter
expansivo, acarretando, deste modo, fissuração, que por consequência, aumenta a
porosidade do concreto, deixando este mais suscetível à penetração de vários
outros elementos. Afeta a resistência mecânica que sofrerá uma redução
significativa se as devidas medidas não forem tomadas (FUSCO, 2008 apud
TRINDADE, 2015).
·
Presença de cloretos
De acordo com Zamberlan (2013), a presença de
cloretos no concreto pode gerar muitos incômodos. Os íons cloreto são um dos
agentes mais nocivos para a corrosão das barras de aço, pois têm a capacidade
de despassivar as armaduras mesmo em PH extremamente elevado. Podem acarretar a
corrosão das armaduras de forma bastante agressiva. Os produtos que são gerados
pela corrosão ocupam um espaço cerca de seis a sete vezes maior do que o aço
originalmente ocupava. Isso se dá pela ocorrência da expansão do processo, que
acaba gerando uma fissuração na estrutura e posterior deterioração do concreto
(TRINDADE, 2015).
·
Ataques por sulfato
Podendo ser encontrado no solo, nas águas
naturais (do mar, da chuva e de lençóis freáticos), nas águas agrícolas, nos
efluentes industriais e sanitários, ele é caracterizado como um dos mais deteriorantes
agentes das estruturas de concreto. Além da ação externa (quando os sulfatos
provenientes do meio externo penetram o concreto por meio de seus poros ou
fissuras), os sulfatos podem atacar a estrutura internamente, visto que eles
podem ser encontrados na água de amassamento, nos agregados, nos aditivos do
concreto, nas adições do cimento ou no próprio cimento (COSTA, 2004 apud
SANTOS, 2012).
Dentre os sulfatos que atacam o concreto,
destacam-se o Sulfato de Sódio (Na2SO4), o Sulfato de Magnésio (MgSO4), Sulfato
de Amônia (NH4SO4), Sulfato de Potássio (K2SO4) e o Sulfato de Cálcio (CaSO4).
3.3. Medidas de profilaxia para se
evitar futuras patologias
As medidas de profilaxia são muito importantes
para se evitar que as estruturas entrem em colapso causando prejuízos
financeiros ou até mesmo vítimas fatais. A FIG. 34 mostra os principais
acidentes ocorridos no Brasil.
FIGURA 34 – Principais acidentes no Brasil
Fonte: Téchne, 2011
As principais medidas de profilaxia para se
evitar patologias nas edificações são:
3.3.1. Projetos bem elaborado
Um projeto bem elaborado deve levar em conta
todos os fatores, estar de acordo com as normas vigentes (NBR’s), ser de fácil
compreensão e estar com todos os detalhes necessários para sua execução.
Segundo Silva e Jonov (2011)14,
projetos mal elaborados correspondem a 18% das origens das manifestações patológicas
no Brasil.
3.3.2. Controle tecnológico dos materiais
De acordo com a NBR 12655 (2015), é preciso fazer
não somente o controle do concreto, mas também dos agregados, água e aditivos.
Segundo a NBR 12654 (2000) o controle tecnológico deve ser elaborado em função
do grau de responsabilidade da estrutura, das condições agressivas existentes
no local da obra e do conhecimento prévio das características dos materiais
disponíveis para a execução das obras. Segundo Silva e Jonov (2011)15,
a falta de controle tecnológico dos materiais corresponde a 7% das origens das
manifestações patológicas no Brasil.
3.3.3. Fiscalização e equipe bem preparada
A falha na etapa de construção é um dos grandes
problemas na construção civil pode gerar muitos custos adicionais. Está
relacionado à quando não se tem uma equipe preparada e quando gestores e / ou
responsáveis técnicos não visitam e nem acompanham suas obras periodicamente. Uma equipe mal preparada vai
estar relacionada diretamente à principal causa de patologia no Brasil a de
erros de execução. De nada adianta um projeto bem elaborado se a equipe não
conseguir entender e executa-lo devido as suas limitações. Segundo Silva e
Jonov (2011)15, uma equipe mal preparada e a falta de fiscalização
estão ligadas às patologias com origens na execução que correspondem a 51%.
3.3.4. Manutenções preventivas
As manutenções preventivas são muito importantes
à medida em que a edificação vai ficando mais velha. A garantia de maior vida
útil e de satisfatório desempenho estrutural e funcional só poderá ser obtida
através de uma manutenção adequada, a qual deverá fazer parte de uma gestão
eficiente, pois os inconvenientes resultantes da inexistência de atividades de
manutenção preventivas e periódicas tornam-se mais frequentes e ameaçam o
sentimento de segurança de seus usuários. Segundo Silva e Jonov (2011)15, as faltas de manutenções
preventivas correspondem a 3% das origens das patologias no Brasil.
3.3.5. Utilização adequada da edificação
Segundo Silva e Jonov (2011)15,
a utilização inadequada de uma edificação corresponde a 13% das patologias no
Brasil. Ocorre, principalmente, quando edificações passam para a mão de
terceiros como é o caso de quando se aluga uma casa para ser utilizada para
outros fins que não seja para moradia (o peso próprio é dado de acordo com a
finalidade da edificação).
4. CONCLUSÃO
As manifestações patológicas na construção civil
podem ter suas origens em qualquer uma das etapas do processo de construção.
Devido a tal fator observa-se a importância das manutenções preventivas, do
controle tecnológico dos materiais empregados, de uma padronização e qualidade
na execução dos projetos e da qualidade dos serviços de execução que constituem
o processo como um todo.
Antes de se realizar qualquer medida para a
correção de uma patologia é necessário saber sua origem, pois manifestações
patológicas com origens diferentes podem ter as mesmas características físicas
fazendo com que uma patologia acabe encobrindo outra.
Portanto pode-se concluir que há uma grande
necessidade pela busca da qualidade na construção civil ou em qualquer outra
área da engenharia civil. É necessário entender que para uma estrutura alcançar
um nível satisfatório de durabilidade sem manifestações patológicas, todas as
áreas envolvidas no processo devem estar em harmonia como: a mão de obra de
execução e os projetistas, os conhecimentos necessários para a realização do
projeto, os materiais utilizados, como da análise do solo e do ambiente no qual
se deseja construir. Nada adiantaria um bom quadro de colaboradores na área da
execução se os materiais utilizados fossem de baixa qualidade ou de procedência
duvidosa. Para se evitar manifestações patológicas, todos os aspectos
necessários para a execução de um projeto devem andar juntos e possuir um
padrão mínimo de aceitação ou de acordo com normas especificas.